A CNE (sucursal do MPLA) e os observadores contratados pelo regime garantem que as eleições de ontem em Angola foram justas, transparentes e dignas. São sempre assim desde que, é claro, o MPLA esmague a concorrência. Embora não existam resultados oficiais, é isso que vai acontecer. A oposição, sobretudo UNITA e CASA-CE, lá terão de continuar (que chatice, não é?) a ser escravos de barriga cheia. Ao Povo resta ser escravo mas de barriga vazia.
Conforme o Folha 8 relatou, circularam ontem informações credíveis de tiroteios, detenções e esfaqueamento junto ade algumas assembleias de voto, estranha mas real sincronização de alguns camiões do lixo junto de assembleias de voto na hora de fecho da votação, coexistência (embora pacífica) de urnas falsas com urnas verdadeiras, delegados de lista dos partidos da oposição afastados à força de perto das urnas.
Tudo falso, garantiu a CNE estribada nas “ordens superiores” e corroborada pelos observadores internacionais, sobretudo da CPLP e da União Africana, que revelaram um exímio dom da ubiquidade.
Também temos informações de que a Polícia Nacional do MPLA retirou urnas, que coincidindo com o encerramento da votação a luz faltou em muitas assembleias de voto e que, no patriótico cumprimento do seu dever, a Polícia evitou a confusão dando uns tiros e permitindo que o pessoal do MPLA “protegesse” as urnas levando-as para parte (in)certa.
A Polícia Nacional do MPLA levou urnas sem estas terem sido validades e devidamente seladas. Mas isso é normal, dirá com certeza a CNE e o grupinho de acólitos do regime credenciados como observadores da CPLP e da UA.
O que diz a UNITA
A UNITA denunciou hoje a detenção pela Polícia (a tal que devia ser Nacional mas é do MPLA), de várias pessoas, em número ainda por apurar, na província do Huambo, durante o dia de ontem.
A informação foi hoje avançada pelo secretário provincial do Huambo da UNITA, Liberty Chiaka, que fala em disparos efectuados pela polícia para dispersar as pessoas.
O dirigente da UNITA referiu que no final do dia de quarta-feira várias pessoas que estavam a 200 metros das assembleias de votação, aguardando pela publicação das actas sínteses, foram dispersas pela Polícia que, face à sua insistência em permanecer no local, e efectuou alguns disparos. Disparos pedagógicos, explicará a CNE.
Liberty Chiaka disse que esses casos ocorreram sobretudo em três bairros principais da cidade do Huambo, onde “houve tiros e várias prisões”, acrescentando que a mesma situação foi verificada na sede do município do Bailundo, onde foram detidas 32 pessoas, tendo igualmente a polícia realizado disparos.
“A lei determina que os não eleitores não podem ficar nas assembleias de voto, mas numa distância de 250 metros podem ficar. A lei determina que apurados os resultados nas mesas a assembleia de voto produz uma acta síntese que é afixada no local de votação, mas isso não foi feito, as pessoas estavam lá para isso, mas a polícia dispersou as pessoas, não queriam que as pessoas ficassem à espera dos resultados”, referiu.
Já no município do Mungo, o secretário provincial da UNITA denunciou a detenção de seis delegados de lista do partido.
“Nas outras áreas, nas sedes municipais não ocorreram situações graves, estamos agora a apurar ocorrências fora das sedes municipais, mas ali não temos rede (telefónica), por isso só durante a manhã estaremos em condições de dar mais informações”, indicou.
A UNITA considerou também “extremamente grave” os atrasos no início do apuramento provincial dos resultados, feito com base nas actas das operações das mesas de voto.
CASA-CE estará sempre “numa boa”
O presidente da CASA-CE, Abel Chivukuvuku, convocou hoje o Conselho Presidencial daquela coligação de partidos angolanos para entre sexta-feira e domingo, em Luanda, analisar “cenários prováveis” pós-eleitorais.
De acordo com uma informação daquela coligação, o Conselho Presidencial vai decorrer na ilha do Mussulo “com a finalidade de se proceder ao estudo das probabilidades e lançar as projecções pós-eleitoral em função dos cenários prováveis”.
Durante o período de campanha eleitoral, o presidente e cabeça-de-lista da CASA-CE às eleições gerais, Abel Chivukuvuku, mostrou-se convicto de que aquela força será, pelo menos, parte do novo Governo, não excluindo uma “coligação à angolana” com UNITA ou com o MPLA.
“Nós já anunciamos no ano passado que a CASA-CE tem probabilidade de ser Governo. Se não for Governo, no mínimo vai ser parte do Governo”, afirmou Abel Chivukuvuku, confrontado pelos jornalistas com a disponibilidade já demonstrada pelo presidente e candidato da UNITA, Isaías Samakuva, para um entendimento pós-eleitoral.
“Por Angola, pela mudança, temos que pôr todas as portas abertas”, admitiu Chivukuvuku, classificando esse hipotético entendimento como uma “gerigonça angolana”.
A possibilidade de entendimento pós-eleitoral com o partido no poder em Angola também não é totalmente colocada de parte por Abel Chivukuvuku: “Com este MPLA não, tinha de ser um MPLA diferente”. Claro!
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